ELA... TRAZIA

Nos pés trazia os passos, passos corridos, descalços, sujos, cheios de terra, de lama, de pegadas deixadas por ali e por acolá que lhe fizeram perder o rumo, da vida, do ser, da existência…
No peito… no peito trazia um coração, retalhado, desfeito, cansado, imperfeito, incompleto, por não querer nem saber mais amar, por ter sido seu todo o amor que se podia dar, mas que não foi recebido…

No rosto transportava a expressão de tantos sentimentos que se confundiam, e fundiam, naquilo que sentia a cada novo dia, mergulhando nas rugas que se cravavam na forma, no contorno de sua face…
Nos olhos extravasavam lágrimas não choradas, por chorar, além das que foi contendo em momentos de sofrimento, que viraram arrependimento por não terem soltado as amarras que as prendiam, e assim, com o tempo, em dores no seu ser se absorviam…

Na pele o toque áspero e rugoso da passagem do tempo, das noites, dos dias, em que nada nem ninguém lhe ousaria tocar, porque como que se temia que se pudesse desintegrar num sopro de vento, como se fosse último momento do que estaria por vir, quando no fundo, até de si, lhe apetecia fugir...
No seu pensamento, naufragavam tempestades de enormes saudades, de tristezas tamanhas, que se fossem montanhas não seriam fáceis de escalar, por terem a dureza de quem deseja apenas morrer e matar, sem dó, sem piedade, por simples prazer, nesse gosto de maldade…

Nos seus lábios pairava paixão, desejo de ardente tentação que se fosse provado, virava logo pecado do qual não se queria provar… mas, como não provar, como ceder, mesmo que no fim de “amor” se viesse a morrer?


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