EM SI TRAZIA…

Traz nos seus passos o peso da solidão, as caminhadas de tristeza que invadiram seu coração, nas promessas cheias de ilusão em que foi acreditando… em vão…
Nos seus olhos vinham paisagens de tons negros sem fim, que a fizeram perder-se em si, como se nada de belo lhe fosse permitido ver, como se apenas sofrimento pudesse perceber.
Nas mãos, vinham as marcas que o tempo lhe deixara na pele, com o passar dos dias, a frieza das noites em que perdera todo o rumo da sua vida e da existência que ainda poderia vir a ter…
No coração, nada mais trazia que saudade de si, do seu ser, do que lhe restava enquanto pessoa, nesse tudo tão cheio de nada em que se tinha tornado, alheia de qualquer sentir, de qualquer querer, de todo o resto que a pudesse ligar a este mundo…
Na sua presença apenas, e só, a certeza do que é incerto, a dor dum tempo e espaço que parece eterno, em que não se enquadra, em que se afasta, se consome, se desgraça, como que morrendo de fome, nesse vazio a que chama vida, que de vida já nada tem, em que aos olhos de alguém ela não passa do que mais um zé-ninguém de que todos se riem, se afastam, como se vissem nela aquilo em que eles se poderiam transformar se, tal como ela, um dia abdicassem de tudo… até de viver ou existir… mesmo sem se ter sítio para onde ir!...


Comentários

  1. Gostei.
    Fui a cursos/ateliés de escrita em Serralves, gostei do desafio de escrever textos e gostei também de ouvir as diferentes respostas a esses desafios, em especial. a prosa poética que sobretudo dois colegas escreviam.

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