PURO... ERA O CORPO


Puro e inocente era o corpo, por ainda não ter sabido, nem as amarguras do amar, e, por isso, ainda estava intacto na sua génese, sem traço, ou toque, algum de pecado, de maldade, de malícia ou perversidade que lhe roubasse ou violentasse a finura de sua pose ou existência, porque de si longe se encontravam as tentações e provocações do desejo, da vontade ou da ardente Paulao, que, sem dó nem piedade lhe podiam estilhaçar o coração...
Quente já é o corpo, quando depois de entrar no mundo do amor, conhece o desejo, que lhe tolhe as formas, mexendo e remexendo no mais fundo, e profundo, de seu ser, corroendo-lhe as entranhas, invadindo seus sentidos, em suspiros, beijos, sussurros ou gemidos, propagados a cada poro, a cada músculo, a cada suspirar na entrega de beijos, de carícias ou ternuras que acordam ardentes desejos impossíveis de controlar e aos quais, o corpo, se vê fraco para recusar, cedendo numa cadência sem fim, em seu limite já não existe, e todo o pecado se admite, e permite, sem pensar mais em si!...
Frio, quase morte parece o corpo, depois de tanto ter amado, e, no entanto, somente consigo mesmo ter ficado, perdendo, com dor e angústia que de pouco lhe valeu ter-se entregado, para ter sido este seu triste fado, abandonado, vazio, delapidado, incompleto, imperfeito, percebendo que toda a culpa fora de tanto querer amar, tanto se querer dar, sem por vezes se respeitar no seu jeito de ser e estar, e que por tanto se ter iludido, enganado e mentindo, só lhe restava a solidão, a saudade, a tristeza invadindo seu despedaçado coração... que não mais voltaria a amar... que não mais iria entregar, por já não querer mais neste mundo andar...


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